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Cartas para José Bernardo e Ignácia é um projeto colaborativo, criado por Maitê Mendonça, com a finalidade de reconstruir a história da família Mendonça, partindo do casal açoriano José Bernardo de Mendonça e Ignácia Bernarda Laureanna de Escobar. Cartas sobre o passado, presente e o futuro.

Carta 02: A Origem do Sobrenome Mendonça no País Basco



Nossa história começa na Espanha, mais propriamente no País Basco, comunidade autônoma localizada entre a Espanha e a França. É uma área de 20.000 quilômetros quadrados. É o lar do povo basco. Apesar do nome, a região não é um país independente, e conserva, até hoje, aspectos culturais próprios, como o idioma basco (euskara), por exemplo. A cidade mais populosa do País Basco está localizada em território espanhol. Trata-se de Bilbao. 
 
 
Bilbao

 
Segundo a historiadora Maria Guadalupe Pedrero-Sánchez, professora da Unesp de Assis (SP), em artigo da revista Mundo Estranho, ao longo de sua história, “o território basco foi invadido por romanos, visigodos, mouros e francos”. É uma região de constante tensão e não faltaram tentativas de independência. O ETA (Euskadi Ta Askatasuna) foi um desses organismos. Conhecidos como Movimento de Libertação Nacional Basco, o grupo, criado em 1959 em Bilbao, ficou conhecido mundialmente por causa de seus atentados. Eles reivindicam algumas regiões da França e da Espanha, como Hegoalde, conhecida como País Basco do Sul, que é onde se origina, por assim dizer, a história do sobrenome Mendonça. Sendo mais específica, a província de Álava. Mas aqui nós não falamos Mendonça, mas sim Mendoza.

Casa de Mendoza

Os Mendoza eram uma família nobre da província de Álava. Eles viviam em Mendoza, que hoje faz parte do Conselho da cidade Vitória, onde construíram a Torre de Mendoza. Mas a história da família não começa exatamente aqui, mas sim, em Llodio, uma outra cidade da região, através da figura de Íñigo López. Mas antes de falar sobre ele, preciso comentar um pouco sobre o contexto  em que Álava estava inserida nesse período.
 
 
Torre de Mendoza - Por Basotxerri - Obra do próprio.

 

Os muçulmanos, conhecidos como mouros, começaram a ocupar territórios na região da Península Ibérica, que eram territórios habitados pelos cristãos, e isso desencadeou uma série de batalhas para retomar essas regiões. 
 
O avanço máximo dos mouros sobre a Europa (a partir da Espanha), ocorreu no ano de 732, quando foram derrotados pelo exército de Carlos Martel, o líder dos francos. Evento este decidido na Batalha de Tours (ou Poitiers), no coração da atual França. Por séculos a conquista dos territórios perdidos para os mouros ocorreu de forma lenta, mas no século XI a guerra de Reconquista foi intensificada, quando a mesma passou a ter um caráter de missão religiosa. Surgiu então o movimento Cruzadista, com a tomada de uma grande parte dos territórios muçulmanos em pouquíssimo tempo. Das derrotas dos mouros foram surgindo vários reinos, como os de Castela, Navarra, leão e Aragão. (Eudes Bezerra)

Os Mendoza faziam parte do Reino de Castela, que era um dos mais antigos reinos da Reconquista. Por ser da nobreza rural, formavam um grupo, conhecido como “oñacinos”, os quais viviam em constante confronto com uma outra família da região, os Guevara, que formava um outro bando, chamado de “gamboinos". Existia no País Basco, na era medieval, as chamadas lutas de bando. Elas aconteciam entre membros nobres da comunidade rural basca e só tiveram um fim por decreto dos reis Fernando II, de Aragão e Isabel, de Castela
Os confrontos entre os Guevaras Gamboinos e os Mendoza, na verdade oñacinos, devem-se ao bipartidarismo de suas posições: o primeiro, de Navarra e o segundo, de Castela, numa época de rivalidade entre os dois reinos. Isto explica porque os Guevaras controlavam a planície oriental de Álava, para os passos de Navarra via Huarte-Aranquil e os passos de Elguea e San Adrián para Guipúzkoa, enquanto os Mendoza dominavam a planície ocidental, para os desfiladeiros do Ebro. [1]
 As famílias travavam verdadeiras brigas sangrentas, como a chamada Batalha de Arrato, que resultou na morte de Lope González de Mendonza, o III Senhor de Mendoza.  Iñigo de Guevara desposou a irmã de Lope. Quando Mendoza soube que o cunhado havia cometido adultério, ele requisitou o retorno do dote que havia pago. Como não conseguiram uma solução pacífica, Lope desafiou o bando dos Guevara na região da Serra do Arrato. Ele acabou falecendo. Mas a história não acaba por aí. Alguns anos mais tarde, o filho de Lope González de Mendoza, que só tinha cinco anos quando o assassinato de seu pai ocorreu, e foi escondido em outra cidade para não ser assassinado pelos Guevara, voltou para a cidade e matou Iñigo de Guevara, ao montar uma emboscada ao inimigo. Diogo Hurtado de Mendoza vendeu a cabeça do assassino de seu pai na feira de Vitoria como vingança. [2]

Como foi dito anteriormente, a peleia "eterna" entre os Guevara e os Mendoza só foi interrompida por intervenção dos reis. Os Mendoza passaram a servir o reino de Castela durante o reino de Alfonso XI. Até os dias atuais, as torres das famílias Guevara e Mendoza são atrações em Vitoria, na província de Álava, e podem ser conhecidas em visitas guiadas. A antiga casa dos Mendoza, por sua vez, abriga o Museu de Heráldica de Aláva. 
 
Com a ascensão da família no reino de Castela, a Torre de Mendoza foi substituída como moradia pelo Castillo nuevo de Manzanares el Real, mais conhecido como Castillo de Los Mendoza, construído pelo  almirante maior do reino de Castela Diego Hurtado de Mendoza, no hoje município de Manzanares el Real, uma comunidade autônoma de Madrid.  O prédio, construído no estilo gótico isabelino, ficou habitado até a derrocada da família.  [4]
 
Castillo de Los Mendoza
 
Atualmente, o castelo serve como palco para eventos públicos, mostras, congressos, exibições de arte, entre outras atividades.
 
A origem do sobrenome
 
A família López é que dá origem para a família Mendoza. Segundo a genealogia de Bermúdez de Castro, Íñigo López de Mendoza é o primeiro membro da família a usar o sobrenome Mendoza. Na realidade, na época, era normal que as pessoas incluíssem em seus nomes de onde elas eram oriundas. Como Íñigo era de Mendoza, e fora indicado pelo rei como responsável por essa vila, que ficava a cerca de duas léguas da cidade de Vitória, ele passara a usar esse sobrenome. 
 
 Em basco, Mendoza significa montanha fria (mendi + hotza). [3]
 
 
Os escudos da família 
 
Brasão

 



Outras fontes:

 

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